No início do séc. XX a Cidade da Paraíba passava por diversas
transformações urbanas, em parte alimentadas pela riqueza gerada pela cultura
do algodão, e novos eixos de expansão eram definidos apartir da Rua das
Trincheiras, Rua de Tambiá, Avenida João Machado e Praça da Independência. E
nessas novas avenidas surgiam as habitações das famílias ricas (produtores e
comerciantes de algodão) que acompanhavam o estilo em voga nos maiores centros
do país, o ecletismo. Essa tipologia
representava nova implantação, distribuição espacial e composição de ornamentos
de estilos diferentes caracterizando um novo modo de morar.
Até a metade do século XIX, a capital da Paraíba ainda mantinha sua
fisionomia e estrutura urbana herdada do período colonial, dividida entre
Cidade Alta e Cidade Baixa. Após projetos de modernização que tem início por
volta de 1850, novos palacetes começam a ser produzidos com uma nova maneira de
morar - em parte resultante dos
princípios higienistas da época e dos Códigos de Posturas, em parte do gosto
vigente: o ecletismo.
Nos primeiros trinta anos do século XX a Capital se desenvolve
rapidamente, por forte influência da boa economia do algodão na época, e o
Ecletismo continuou representando a classe alta burguesa e seus novos hábitos
que modificavam por influência da imprensa, do teatro, e dos passeios públicos
nos coretos das praças. Com um comércio urbano mais desenvolvido, novos
materiais de construção se tornavam acessíveis ao tempo em que na primeira
década do século XX algumas dessas habitações já possuíam abastecimento d’água
e energia elétrica. Em 1910 a Avenida
João Machado foi aberta por causa dos melhoramentos em saneamento e
abastecimento d’água e nesse eixo de expansão, um verdadeiro boulevard para aquela
época, as famílias ricas edificaram seus palacetes no estilo eclético. Assim
foi se consolidando, como imagem da cidade daquela época, esta tipologia das
grandes casas isoladas dos lotes, cercadas por jardins, com volumes e cobertas
mais movimentadas e de refinamento estético nas fachadas. Com os novos arranjos
espaciais o acesso principal passou a ser diferenciado, dividindo o pedestre e
o automóvel, e esta modificação deu liberdade para o surgimento de halls
centrais que distribuem o programa, horizontal e verticalmente.
Entre o fim do século XIX e o início do século XX o Brasil passou por
grandes modificações políticas, econômicas e sociais que se refletiram em
mudanças urbanas e arquitetônicas, visando principalmente, deixar para trás o
passado colonial e transformar-se num país moderno, sob o lema republicano:
ordem e progresso. Naquele momento, a Europa ditava para o mundo o modelo
estético do ecletismo que passou a ser sinônimo de modernidade e progresso,
sendo adotado por todos os países que buscavam alcançar tais status. Foi neste
contexto que a arquitetura eclética invadiu as cidades brasileiras naquela
época. Vale ressaltar que, segundo SEGAWA (1999) o Ecletismo no Brasil é um
estilo que corresponde mais a uma composição estética e formal, do que um
revival de estilos passados que não aconteceram no país. LEMOS (1996) afirma
que essa mistura eclética "simbolizava o progresso e a nova visão de
conforto".
Arquitetura Eclética na Paraíba:
Até a metade do século XIX, a capital da Paraíba ainda possuía muitos
resquícios da organização da cidade colonial de relevo acidentado que definia
uma área da Cidade Alta, centro político-administrativo e moradia dos mais
abastados, em oposição à Cidade Baixa, área de comércio, transações portuárias
e moradia dos trabalhadores.
Na virada para o início do século XX, algumas ações modernizantes
modificavam a cidade, como a transformação de antigos largos e logradouros em
praças públicas, calçamento de vias principais, novos equipamentos públicos
higienizadores como mercado e cemitério público, novos edifícios oficiais
construídos sob o estilo ainda em voga no final do século XIX, o neoclássico. A
imprensa teve grande importância nas modificações ocorridas nesta época na
cidade, exigindo melhorias tanto no espaço urbano quanto na arquitetura. Neste
sentido, eram divulgadas nos jornais as ideias higienistas, juntamente com os
Códigos de Posturas, que norteavam o modo de edificar as novas habitações.
Durante a administração de João Machado (1908 – 1912), são fornidos novos
melhoramentos em infraestrutura, abastecimento d’ água, saneamento e iluminação
elétrica. Um dos resultados de seu investimento será a abertura da Avenida João
Machado, construída no ponto mais elevado da cidade, na avenida foram
construídas grandes casas isoladas nos lotes, com jardins frontais e laterais,
configurando os palacetes no estilo eclético das famílias abastadas da capital.
A Avenida João Machado foi um verdadeiro boulevard que revelou à cidade as
possibilidades da modernidade e o glamour do ecletismo. Como resultado destas
intervenções urbanas, o entorno destes eixos de expansão da cidade e dos novos
espaços públicos abertos como ícone de modernidade, passaram a ser os locais
privilegiados de moradia da burguesia. Foi lá que investiram em seus suntuosos
palacetes cercados de jardins, espacialmente organizados para atender à nova
forma de morar ditada pelos códigos de obras, e embelezados com um repertório
estético de filiação eclética, seguindo o gosto predominante em todo o Brasil.
Hoje, percorrendo as ruas do Tambiá, Trincheiras, João Machado, o entorno da
Praça da Independência e outros logradouros da cidade, observamos que estes
palacetes permanecem, a narrar a história da cidade das primeiras décadas do
século XX e a dita nova forma de morar.
Segundo GUEDES (2006, p. 117), “as residências pertencentes à elite
local e aos grandes proprietários do interior seguiam os padrões e estilos já
adotados nas principais cidades brasileiras que, por sua vez, seguiam os
europeus e norte-americanos. Esse ‘ecletismo estilístico’ era observado na
arquitetura, no mobiliário, na decoração dos ambientes e no conforto e
salubridade das edificações recém-construídas ou reformadas.”
A implantação geralmente é centralizada e segue um paralelismo em
relação aos lotes, os ideais sanitaristas tem forte papel nas decisões sobre
recuos laterais, de frente e fundos, número e tamanho das aberturas, relação
com o exterior, por meio de terraços, varandas e jardins.
A partir da geometria em planta complexa dos palacetes, as composições
volumétricas também serão rearranjadas de maneira a criar movimento entre os
volumes das edificações e seus planos de coberta. Alguns palacetes possuem
volumetria partindo de prismas simples, ou por vezes acrescidos de outros
volumes que definem uma marcação vertical na fachada principal (é comum esse
destaque possuir um novo uso no programa como vestíbulo ou mirante). Também é
frequente o terraço coberto e/ou a varanda descoberta, como valorizados espaços
de comunicação com o exterior que geram decréscimos volumétricos, tornando a
composição dinâmica. As coberturas são feitas por telhas cerâmicas, na maioria
dos casos, com diversos arranjos de planos de coberta que avançam sobre as
paredes externas. A principal característica do palacete eclético era o
afastamento, mesmo que parcial, das divisas do lote e do alinhamento da rua.
Com isso, poderia ter ar e luz diretos em todos os cômodos. Sua planta
distinguia-se pela independência entre as zonas de estar, repouso e serviço da
moradia: ia-se de uma a outra sem obrigação de cruzar a terceira.
O programa inclui novos usos da classe abastada da época como distintas
salas de estar, espera, visita e de jantar; jardim de inverno, sala de música,
mirante, gabinete, engomados, quarto de hóspedes, vestiário. Também surgiram a
garagem e dormitório dos empregados, mas estes, em geral, não estavam no corpo
principal da casa, mas em construções anexas, então denominadas de edículas.
Quanto à ornamentação representavam o poder aquisitivo da família
proprietária e tinham as mais diversas influências, as linguagens identificadas
variam desde frontão com detalhe em alto relevo torreão, pergolado, colunatas,
até trabalhos artísticos no interior das edificações em pinturas, em madeira,
vitrais coloridos, gradil em ferro decorado, varandas Art Nouveau. Por vezes, a
decoração é evidenciada na fachada, com mais propriedade nos elementos de maior
verticalidade, destacando a edificação em meio o contexto urbano em que ela se
insere.
O palacete 276 da Av. João Machado, teve projeto original feito por um
arquiteto francês, a ser edificado na cidade de Recife, e a família agradou-se
tanto que pediu para construir um semelhante na capital da Paraíba, na década
de 1920.
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